quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O advento é um tempo de “espera”

Aqui para os meus lados diz-se que se vai fazer uma espera quando, às escondidas ou às escuras, se vai preparar o assalto a alguém. Faz-se-lhe uma espera para lhe dar uma coça ou para lhe sacar alguma coisa. Não sei que possamos sacar ou sovar no advento. Mas sei que o advento é um tempo de espera.

Ó padre, não era melhor dizermos esperança e evitávamos assim essas confusões de que está a falar? perguntou a Maria João no meio da reunião de catequistas. Ó Maria João, a esperança pode ficar-se naquela de ansiar algo, de esperar ou confiar que aconteça algo, mas não no agora que tem a certeza do acontecer e que começa já a acontecer. A espera é um já acontecer agora. A esperança pode deixar-nos confortáveis e passivos esperando. A espera exige de nós uma acção já e contínua. Ui, padre, está cá com umas filosofias! Explique-se melhor.

Para entenderdes melhor, permiti que vos fale do que se espera. De uma forma muito superficial, todos os anos dizemos que esperamos o nascimento do menino Deus. Dizemos que esperamos o Natal, e na verdade os muitos adventos de cada ano, às vezes, não são mais do que um esperar o Natal. Devia antes ser a espera de um Deus que teima em vir ao nosso encontro, ao encontro da nossa intimidade. É mais que esperar um Natal. É esperar que Deus aconteça no meu interior. Por isso não é uma espera fácil. É uma espera dura e dolorosa. Porque Ele não vem para nos facilitar a vida. Vem para a felicitar. Para lhe dar sentido pleno. E por isso exige, e por isso dói. E por isso faz-nos fazer a acção de esperar para que vá acontecendo e para que seja já. E por isso exige que me desacomode. Que não espere acomodado, passivo. Advento aliás é a resposta litúrgica (espero não dizer uma asneira litúrgica, que eu não sou propriamente liturgista, mas digo-o na mesma) para um tempo inteiro que se quer que seja uma vida inteira. A espera que recordamos no advento é uma espera de toda a vida. Como uma noiva espera seu noivo para a festa e se banha, maquilha, prepara as palavras e os olhares, perfuma-se, torna a maquilhar-se, veste o melhor vestido, prepara uma surpresa, penteia-se e torna a compor o cabelo, sorri, anda de um lado ao outro amando já, mesmo sem que o noivo tenha chegado e esteja ainda à porta…
Fonte: aqui

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