As flores murcham
as lágrimas evaporam-se
as velas derretem-se
a oração recolhe-a Deus
(Sto Agostinho)
Purgatório é esse espaço de derradeira purificação
antes da visão de Deus. E faz parte da nossa tradição crente a convicção da fé
de que ninguém vai directo ao paraíso, se antes não passar por esta purificação
pelo fogo do amor divino, aquilo que os místicos já intuíam como a purificação
passiva do espírito, desses restos de apego de si a si mesmo, para que então
finalmente Deus seja Deus em nós mesmos. O Purgatório é então o 'lugar' de
purificação dos restos de pecado, deste apego último às criaturas e que impede
o mergulho no fundo oceânico e abissal do mistério de Deus. Porque só o amor
purifica, então o Purgatório será esse espaço de tempo sem tempo e mesmo assim
distinto da visão beatífica em que o fogo do amor divino purifica o nosso ser
e, neste caso, o nosso coração e o nosso olhar para a visão da Trindade.
Na Comunhão dos Santos
A oração e a esmola
Só os mártires por causa da fé ou os santos que
viveram a heroicidade das virtudes, que fizeram da vida um autêntico
purgatório, um tempo de purificação existencial pela intensidade do amor de
Deus acolhido, é que a Igreja declara que na morte as suas almas acedem logo à
visão beatífica, à contemplação de Deus face a face, na qual consiste a
bem-aventurança eterna. Quanto ao resto, quanto a nós que esperamos encontrar
um lugarzinho de esperança no purgatório de modo que possamos estar nem que
seja ao entrar da porta do Paraíso (Deus nos livre da perdição eterna!...),
temos todos de passar por essa purificação passiva do espírito, que poderá ser
mais intensa e temporalmente atenuada se for apoiada e suportada pela oração da
Igreja.
E assim se juntam duas coisas: a oração e a esmola,
como exercício da espiritualidade cristã, numa sadia e tão simples vivência da
comunhão dos santos, nas diversas fases em que se encontram: os que vivem ainda
na condição de peregrinos, entre as perseguições do mundo e as consolações de
Deus, com os que já se encontram em lugar de esperança, mas que contam com a
nossa oração; e os que se encontram na glória a interceder por nós, para que
assim como eles, mantenhamos, apesar de tudo e em todas as circunstâncias, o
nosso coração em Deus: bem-aventurados os que morrem no Senhor, porque as suas
obras os acompanham!
Não desejo a morte,
mas não temo a
morte
A vida, toda a vida, é dom de Deus. Pertence-lhe. Compete-nos administrar esse dom fabuloso que Ele nos confiou.
A vida terrena como a vida eterna são dons da infinita bondade do nosso Deus.
Por isso, o crente quer sempre a vida, no tempo ou na eternidade. Nesse sentido não deseja a morte.
Mas a morte abre-nos as portas para a vida em plenitude, para os braços do Pai. Assim, não a teme.
Novembro:
Para que vivemos?
Segundo aquela máxima dos antigos de que a meditação
sobre a morte – 'memento mori'-, sobre aquelas coisas que se não devem
esquecer, é fonte de vida e de sabedoria, daquela que o mundo de hoje tanto
precisa.
As pessoas fogem de pensar no fim como se a morte não existisse. Não, ela faz parte da vida. Ela ajuda a perspectivar a vida terrena.
Para que vivemos?
Da resposta a esta pergunta, nasce a segunda pergunta:
Como vivemos?
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